viernes, enero 26, 2007

Bienvenidos al 2007! Ai mamita!

O meu 2006 acabou nas urgências da CUF das Descobertas com ranho purulento e enxaquecas incuráveis com os Ben-ur-on 1000. Levei na veia um medicamento eficaz, pelo menos -afirmou a médica- para acabar com as marteladas no piso de cima.


Mas o ano de 2007 não começou melhor, que a juntar à tradicional cueca azul, presenteou-me com 38 graus de febre. Mas entretanto lá para o meio aconteceu a meia noite. Festinha improvisada com grupo igualmente quase improvisado. Começámos todos periclitantemente, receando que os ingredientes daquela noite não fizéssem crescer a massa, mas o Martini e os Casa de Santar tinto ajudaram a lembrar que, apesar de poucos, sempre nos entendemos com conversas depravadas ao som do "Confessions on a Dance Floor", sempre em tua casa Tojo. Rolo de carne à Maria Moura, entradas bem confeccionadas pelo Caçador, doce de abóbora com uma tentativa falhada de queijo fresco e nozes, azeitonas e sobremesas que mal se comeram a uma hora em que já só queríamos saber do champagne e das passas (infelizmente eram só daquelas que se comem...).


Mas a festa continuou sem nenhum de nós se ter transformado em ratinhos, abóboras ou até mesmo em plebe. Seguimos para os lados da Mãe D'Água onde há um clube recreativo que pelo nome acharia que corria o risco de levar "c'uma chináda". Do outro lado da estradinha há um prédio com 2 andares e umas águas furtadas: dimensões reduzidas que levavam a imaginar escadas íngremes e desgastadas, corredores escuros e cheiro a mofo. No entanto fui surpreendida por corredores amplos e bem iluminados, chão em tijoleira e umas águas-furtadas perfeitamente restauradas por quem percebe, um open space com clarabóias e um petit jardin interior. Notas (assim manda a tradição), Laurie Anderson mixada, espelhos, e Terras do Pó tinto com fartura. Inicialmente ataquei o vinho, e apesar dos convites, rendi-me a apenas uma Stolichnaya com sumo de limão para durar o suficiente no 1º dia do ano (já que ainda restavam os outros 364).


Passámos pelo Lux, mas apesar de mais de metade ter o nome na guess list, os que não tinham, até poderiam estar com traje sado-maso, mas não entravam. Acabei por ir até à... Music Box, que -vindo a saber uns dias depois- é patrocinada (financiada?) pela SIC (Radical(!)). Eram já quase 4 da manhã, o Jamaica estava a prestes a fechar para começar os preparativos para o after-hours, e naquela cobravam-nos 12€, que para uma noite de ano novo é à borla! Musica muito dançável, estrangeiros e caras "conheço-te-não-sei-de-onde". Acabei a minha noite naquela "boate" a falar com a miúda do bengaleiro que era italiana, e que para meu regozijo e euforia ébria, conhecia a triologia "Amici Miei", a qual me tinha pregado ao sofázinho de baloiço a rir desalmadamente durante o dia natalício, no convívio saudável com o papá.



Decidi ir-me embora. Uns já tinha ido e outros já se tinham aninhado na pista de dança. Saí com visão turva, de outra forma ter-me-ia posto aos berros cheia de medo. Os Absoluts, Stolichnayas, vinhos, Martinis e champagne deram-me fôlego e coragem para enfrentar uma rua cheia de prostitutas, chulos e drogados, como se se tratasse de uma flora bacteriana que cria uma "bolha Actimel" como promove a Danone no seu anúncio, que adaptado à minha condição seria qualquer coisa como: "muito álcool por dia, e nunca a escória râncida me infectará". Era bom, não era? Entretanto ouvi um táxi a aproximar-se, virei-me para trás e não detectei a luzinha verde acessa, nem os números amarelos. Mas como os taxistas hoje em dia, pela inércia da entidade competente que nunca mais implementa as medidas necessárias, andam constantemente receosos, ao passar por lugares hostis têm por hábito dar a entender que estão fora de serviço. Eu com o meu ar de menina que foi parar ali por efeitos à 5ª dimensão, casaco estilo Channel e sapatinhos à Feiticeiro de Oz, fiz sinal. O nobre homem parou ao meu lado, e eu, qual prostituta, verguei-me até à altura da janela, do lado do lugar do morto: "vai p'ra onde?" disse ele, e lá me abriu a porta. Como tudo aconteceu a uma velocidade mais rápida que a velocidade de processamento do meu cérebro, entrei pela porta que se me abriu e reparei que estava lado a lado com o taxista, e nem conseguindo articular palavra, entram de rompante duas espanholas para os assentos de trás: "por favor! déjanos entrar que ya nos tiraran al suelo dos veces y nos morimos de miedo!". Embevecidas pelo meu sotaque perfeito, com influências estremenhas da Marta, e pela minha boa vontade, lá as levei até à praça da Figueira antes de seguir rumo a casa.


Mas a odisseia não ficou terminada por aí. Como um balde de água fria despejado na minha cabeça e ao mesmo tempo toda uma cafeteira cheia de café jorrada pela minha goela abaixo, o taxista começa a falar de "fiesta!", que o casório ia de mal a pior, e remata com uma tímida e obscura ideia de mim a festejar um pouco mais. Menos mal: tinha-me esquecido das chaves de casa e lá telefonei à minha mãe a meio da viagem. Eram sete da manhã, sol a começar a espreitar e eu a dizer a um depravado que tinha a mãezinha e o paizinho acordados à minha espera à porta de casa. Por momentos pensei se teria escolhido a opção mais sábia, não fosse o preverso gostar de menininhas colegiais... Mas depois pensei: "naaa... com as bogas com que devo estar por causa do eyeliner, e as résteas do baton encarnado, mais pareço uma trintona acabadíssima e inútil que ainda vive com os papás". Vendo bem as coisas, a maquilhagem carregada e a expansividade alcoólica sempre ajudam, nem que seja no fim da noite, a repelir os indesejados insatisfeitos com o desfecho das suas noites. Da minha parte, o meu pano fecha-se todas as noites com uma grande ovação.

Até amanhã!